Valença

No final do século XVIII e início do XIX, na região das margens do Paraíba no norte fluminense, índios de grupos diversos entraram em conflito com fazendeiros que passaram a se instalar naquele espaço. Na região de Valença, o fazendeiro José Rodrigues da Cruz manteve relações amigáveis com os coroados, o que possibilitou o estabelecimento da aldeia em 1801, próxima às suas terras. Em 1803, o padre Manoel Gomes Leal foi indicado para ser o capelão dos índios e construiu a primeira capela, sob a invocação de Nossa Senhora da Glória de Valença. Com o crescimento das atividades produtivas na região, mais fazendeiros ali se instalaram, contribuindo para a intensificação das relações entre índios e não índios. Em 1817, índios coroados remeteram requerimentos às autoridades devido aos conflitos relativos à doação de sesmarias na área da aldeia para um não índio, solicitações que foram acatadas pelo rei em 1819, reafirmando o direito dos indígenas sobre as terras. No entanto, ao longo das décadas de 1820 e 1830, autoridades locais construíram a argumentação de que os índios não mais viveriam no interior da aldeia de Valença, mas sim em áreas próximas. No ano de 1823, a aldeia foi transformada em vila e nos anos seguintes (1824-1825), muitos indígenas da aldeia de Valença se instalaram às margens de um afluente do rio Paraíba (o rio Bonito), local onde foi doada uma sesmaria para a fundação de outra aldeia, a de Santo Antônio do Rio Bonito. A efetivação da vila só ocorreu em 1826 e apenas teve a eleição dos vereadores da Câmara Municipal em 1836, quando a Sesmaria dos Coroados de Valença foi incorporada ao patrimônio da Câmara.

Bibliografia

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