São Fidélis

A aldeia de São Fidélis foi fundada às margens do rio Paraíba no norte fluminense (atual município de São Fidélis), em 1781, pelos primeiros capuchinhos italianos a se estabelecerem na região. Sua instalação foi possível devido aos rendimentos provenientes da extinta aldeia de Santo Antônio de Guarulhos. A escolha das terras foi muito influenciada pelos interesses dos próprios índios, que preferiram uma área já utilizada por eles para roçado. No entanto, de acordo com o  projeto de expansão da colonização do Rio de Janeiro, essa aldeia foi estabelecida com o objetivo de abrigar índios dos sertões da capitania, de maneira que os fazendeiros pudessem se instalar na região com suas lavouras e criação de gado. Foi composta, principalmente, por índios coroados e coropós da região e ex-habitantes de Santo Antônio de Guarulhos, que voltaram a aldear-se. A instalação da aldeia foi permeada por conflitos com colonos que haviam arrematado parte daquelas terras como espólio jesuíta (expulsos do Brasil em 1759). Porém, os proprietários de fazendas mudaram de opinião ao perceberem os possíveis benefícios advindos da proximidade de uma aldeia, como o acesso à mão de obra indígena. A partir de então, a fixação de não índios no entorno e no interior da aldeia foi estimulada, principalmente a partir da construção da igreja da aldeia. Ao adentrar o século XIX, os índios de São Fidélis enfrentaram diversas investidas sobre as terras da aldeia, tendo em vista a presença na vizinhança de vários engenhos e fazendas  voltadas majoritariamente para a produção de café. Em 1840, como parte de seu  processo de extinção  a aldeia foi elevada à categoria de freguesia e na década de 1850, suas terras e edificações foram arroladas como patrimônio da Igreja, das extintas irmandades, de particulares e da câmara municipal. Nesse processo, muitos índios migraram para a aldeia da Pedra (Itaocara). No mesmo período, a Freguesia de São Fidélis foi transformada em município, o que permite inferir a extinção da aldeia.

Bibliografia

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